sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Renda Portuguesa

Renda portuguesa A minha é dos anos 60, presente de casamento de uma vizinha muito querida, dona Maria. Claro que já virou várias gerações e sempre floresce bela, após a poda que se faz no fim de julho. Tenho um xodó absurdo por essa maravilha delicada e de um verde exuberante, que vem alegrando meu viver desde Santos, sendo parte obrigatória das tantas mudanças que fiz. Admiro-a todo santo dia. Por isso, qualquer alteração no visual dela me preocupa. Indo direto ao assunto – as benditas lagartas que têm nela seu cardápio predileto. São aquelas lagartas bem pequeninas, dois centímetros talvez, que liquidam com a renda num piscar de olhos. O dia em que o piso onde ela está aparece cheio de picotes verdinhos, já se sabe – invasão de lagartas. Isso acontece esteja ela onde estiver, seja pendurada na cozinha, dando aquele toque divino da natureza, seja num vaso convencional, enfeitando a varanda. Que me recorde, em tantas décadas, poucas vezes elas fizeram a minha renda de banquete. Uma vez, da noite para o dia, o piso da cozinha da casa “velha” amanheceu forrado de verde, abaixo da renda pelada, pois só sobraram os galhos. Fiquei boquiaberta, era minha primeira experiência com as danadinhas! Agora acontece de novo, só que à prestação. Ontem, tive o alerta – havia picotes junto ao vaso no chão da varanda. Pus os óculos e esmiucei ramo por ramo da renda. Descobri só uma lagarta. Não titubeei, quebrei o galho onde ela estava e enfiei-o num saco plástico que vem com o jornal. Ali ela ainda teria um bom tanto de banquete, embora com certo remorso. Afinal, é um princípio de vida que sufoquei. Hoje cedo, fui direto visitar a renda, na verdade não minha, mas da natureza. Mais picotes pelo chão! Pus-me a vasculhar os ramos, achei três vidinhas a pastar no vaso. Não tive duvida, esqueci o remorso, enchi outro saco com banquete e penetras. Mas veio a culpa pra valer. Liguei para um amante de plantas, pedi orientação. Que vexame! Do outro lado do fio, veio uma aula de botânica: as coitadinhas passavam pelo processo de se tornarem belas borboletas. “Mas essas lagartas tão pequeninas?” – indaguei. Sim, sim, eu deveria só apreciar de camarote a destruição da minha renda. Logo, logo ela se desenvolveria mais exuberante outra vez. E mais borboletas coloririam a vida... Senti-me como partícipe de abortos. Deixo aqui um mea culpa cavalar. minesprado@gmail.com Fev/17