quinta-feira, 6 de agosto de 2015
Do malão eu abriria mão
Do malão eu abriria mão
No Dia do Amigo, 20/7, à véspera de viagem por este mundinho afora:
_ Tchau, vou arrumar minha valise, amanhã cedo pego a estrada – disse-me um amigo do outro lado do fio.
_ Tchau, boa viagem! E eu também arrumo minhas coisas, só que, numa valise, mal cabe um par de sapatos meus , tem que ser mala mesmo – brinquei.
Valise - há mil anos não ouvia essa expressão. Médicos usavam valises, famílias as entulhavam com remédios e afins. Mas tudo muda e a forma de acomodarmos a tralha de viagem também teve mudanças significativas.
Para os itens de toalete não se fala mais em frasqueira, aquela belezinha de couro, com alça para segurá-la elegantemente, toda forrada por dentro e com encaixes para a badulaqueira que pudesse quebrar (vidros); hoje o que se chama de “nécessaire” é uma ofensa às frasqueiras lindas, combinando com nossa roupa. A minha frasqueira é sobrevivente dos anos 60. De um vermelho escuro, ornava com o azul marinho e branco que me vestia da cabeça aos pés, quando, sonhadora, saí para a lua de mel.
As malas de couro finíssimo, em que a roupa ficava passadinha, foram substituídas por feiuras descartáveis: a cada viagem, é mala nova ou conserto no sapateiro, este feliz com a alta procura por serviços que, antes, não tinha: pôr zíper novo, remendos, costurar rasgos (nos aeroportos, as benditas esteiras, onde a bagagem despachada cai aos trancos e barrancos, são as inimigas número um das malas). Nas viagens de hoje, quem quiser andar decentemente vestido, é obrigado a usar roupa que não amasse ou, então, andar de ferro a tiracolo, aqueles pequeninos e dobráveis (rs).
Felizmente, ainda não passei pelo vexame de mala estourada em praça pública, mas já vi muita gente em apuros, pelo zíper arrebentado ou algum lado da mala rasgado, deixando tudo à mostra, inclusive peças intimas. Um horror. Bem verdade que já tive mala de couro escancarada nos trilhos da ferrovia Santos/Ribeirão Pires (anos 50), graças a um irmão afoito que, ao tentar pô-la no bagageiro do trem, deixou-a cair janela afora, diante dos olhos esbugalhados de um meu fã de adolescência. Eu queria morrer!
Se antes uma viagem de avião ou navio era efeméride (isso mesmo!), homens de terno e gravata, chapéu, mulheres de vestido, luvas, hoje tênis e jeans são a regra. E mala leve, por ordem expressa da lei, que varia mais do que o nosso “invernico”. Se a mala de mão pesar mais do que o conteúdo – já aconteceu comigo –, você escuta: “A senhora deveria ter despachado essa mala.” Quase respondo: “Só se for a mala vazia.”
Mas, voltando à valise. Qual mulher consegue viajar, levando suas coisinhas em uma valise? Mesmo que seja por um dia, jamais a gente faz esse milagre. Sempre precisamos de, no mínimo, uma boa sacola, certo? Imagine para quinze dias, um mês! Um malão lotado é pouco.
Há tempos, rabisquei esta frase de meu saudoso pai, um dos poucos homens que conheci que compreendia os ônus da mulherada: “Se, em outra encarnação, eu nascesse mulher, daria um tiro na cabeça.” De fato, ele achava muito complicada a vida do (ex) sexo “frágil” .
Concordo, plenamente, com papai. Uma “valise”, com duas mudas de camisa, cueca, meia, lenço, mais materialzinho de higiene essencial (“vaidade” fica pra trás), pasta, escova, sabonete, gilete, pente. Pronto, qualquer homem se vira bem com a roupa do corpo e mais essa lista minguada. Pijama, chinelos? Ah, na época de calor nem precisa, certo?
Toda mulher gostaria que sua tralha coubesse, não numa valise que já é querer demais, porém numa malinha 55x35x25. Isso só mesmo por milagre. Por mim, juro de pés juntos que, do desgaste de fazer malão, eu abriria mão.
“Rabiscos de Minês”:minesprado.blogspot.com.br
minesprado@gmail.com
Extranews de 5 de agosto de 2015
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