quarta-feira, 1 de julho de 2015
UAIPI
Viva o Uaipi
O brasileiro costuma achar que a vida, lá fora, é um paraíso. É comum encontrar gente aconselhando o outro a ir para os States, eleito por muitas gerações nossas como país de realização profissional e enriquecimento fácil. Ledo engano, a partir do princípio que, nos Estados Unidos, só consegue progresso quem põe a mão na massa pra valer, topa começar lavando louça, carro, banheiro, pajeando bebês. É preciso ter humildade, aceitar trabalhos que o jovem forasteiro nem sempre engole, sobretudo se tiver estudo e for oriundo da classe média, impasse difícil diante de tanto preconceito arraigado neste Brasil.
Mas ponho de lado o assunto da ascensão pessoal, para falar das riquezas deste solo gentil e farto, dentre as quais destaco a boa e velha mandioca, também conhecida por aipim, uaipi, macaxeira, mandioca doce, mansa, amarga, brava, pão-de-pobre.
Esta semana cozinhei um tanto de mandioca e congelei uma parte. Comi-a com sal e queijo ralado, pus alguma na sopa, uma delícia! Até que me lembrei da congelada.
Era sábado, dia de coisas gostosas. Olhei para aqueles pedaços prontos pra um prato saboroso. Ah, fritos ficariam tão bons! A ideia me fez água na boca. Mas o cheiro de fritura me arrepia. Hesitei, ponderei prós e contras, pensei no fogão limpinho e até na balança acusatória. Enfim, queria motivos que me demolissem da ideia de fritar mandioca. Mas qual! Venceu a água na boca. Enchi de óleo uma frigideira, forrei uma travessa com papel toalha e mãos à obra.
Meu almoço foi o “pão-de-pobre”, nome injusto para um banquete – aipim em pedaços finos,dourados, sequinhos - regado a vinho tinto do Paraná, hum! Saboreei tudo devagar, enquanto meditava sobre nossa facilidade para comprar, em qualquer portinha, mandioca e tantas coisas saudáveis, como banana, laranja, alface, batata. É simples ter uma refeição bem brasileira: arroz, feijão, mandioca, verdura, pronto, eis o sustento da família, com gasto mínimo e muita satisfação.
Depois do lauto almoço, tive vontade de saber mais sobre o aipim. A pesquisa valeu. Vamos lá.
A mandioca é nativa da América do Sul, sendo que o arbusto pode atingir até 3 metros de altura. Pertence à espécie manihot esculenta, da família da euphorbiaceae – denominação pomposa, não acha, caro leitor? Se todo brasileiro decorasse esses vocábulos, talvez desse mais valor à macaxeira, alimento versátil e acessível a todo bolso. Com ela se preparam alimentos supimpas: frita, purê, escondidinho, pão, bolo, bolinho, farinha para farofa ou tapioca etc. E também bebidas, como cauim e tiquira.
Raiz e folhas da manihot esculenta são fonte de carboidratos, proteínas e vitaminas. Na África, o uaipi é usado no combate à desnutrição.
Lembra-se, leitor, da época em que era chique oferecer estrogonofe “feito” por madames que mal encostavam a barriga no fogão? Pois acho que seria chique servir mandioca em qualquer banquete, não apenas a brasileiros, mas a estrangeiros que aqui aportam. Fica minha sugestão para os bufês desta terra farta por natureza. Viva o uaipi!
“Rabiscos de Minês”:minesprado.blogspot.com
minesprado@gmail.com
Publicação no Extranews - 1/7/15
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