quarta-feira, 10 de junho de 2015

Conselho de macaca-velha

Bateram na minha bunda – a moça grosseira reclama para o jovem policial. O brasileiro se expressa ambiguamente a toda hora, ou seja, a ofendida pode estar falando da traseira do veiculo dela ou do próprio bumbum, concorda, leitor? Nós, conterrâneos, entendemos tudo direitinho, lemos nas entrelinhas. Mas os que vêm de fora? Será que compreendem esse linguajar? A questão é preocupante, pois um mal-entendido pode gerar muita confusão. Querem ver? Anos atrás eu estava num shopping enorme, em Virgínia, junto a Washington – Distrito de Columbia, capital dos Estados Unidos. Sou avessa a shoppings, porém precisava fazer hora, até que meu filho saísse do trabalho e fosse me buscar. Passei um tempão andando pra lá e pra cá, entrei em lojas, vi vitrines, indaguei, treinei meu inglês enferrujado. Tudo enferruja, se não é usado... Para não sair de mãos vazias, comprei umas echarpes pras amigas e uma pra mim, de lãzinha, made in Italy. Fosse agora, seria “made in China”. Impressionante o que os EU importam; difícil adquirir algo feito lá, sobretudo roupas. Dá raiva, pois os produtos americanos costumam ser bons. Como cheguei ao shopping (Tysons, se não me engano) pela manhã, na hora do almoço, estava com fome. Americano não almoça. É um snack, lanche rápido, na base do sanduiche ou chips e olhe lá!. Não sou muito de lanche, então decidi conferir a pizza americana. Entrei num lugar apinhado, pedi um suco de laranja (orange juice) e um pedaço de pizza. Este estava horroroso, massa grossa, nada a ver com a que servem aqui – a do “Bedrock”,por exemplo, finíssima, servida na pedra, divina! Enquanto engolia a pasta medonha, empurrando-a com o suco, observava ao redor – mania de cronista- , o pessoal atropelando a vida, falando e mastigando ao mesmo tempo, tudo numa correria muito louca. Provavelmente, gente no intervalo do trabalho. Para gringo, “Time is money.” , ou seja, “tempo é dinheiro”. Com a pizza atravessada na garganta, dei mais umas voltas, de olho no relógio. Meu filho me pegaria lá pelas 7 da noite, na Califórnia Pizzaria, localizada junto à entrada do shopping. Para quem tem receio de se perder, ali é ponto de referência ideal, mesmo porque, enquanto espera, a gente pode sentar a uma mesinha externa, ler um bom livro, escrever, ver o mundo girar. Lá pelas tantas, eu estava no terceiro andar. Então, com preguiça de olhar no mapa de localização que existe por todo lado, resolvi perguntar a um funcionário de loja (clerk) como eu fazia para chegar à California Pizzaria. A resposta não poderia ser mais absurda: _ You must go to the airport to fly to California… (Você precisa ir ao aeroporto, para voar para a Califórnia.) Contive o riso, expliquei-lhe que queria saber de uma pizzeria no térreo. De certo, quando o abordei, ele só captara a palavra “Califórnia”, acabou entendendo, explicou-me onde pegar o elevador, e ok. Lá me fui, rindo da big confusão e louca para compartilhá-la com meu filho que chegou logo mais, encontrando-me sentadinha na “Califórnia”, rabiscando as experiências do dia no Tysons. Veja, caro leitor, a comunicação ambígua, porque admite dupla interpretação, pode criar muita encrenca! Assim, todo cuidado é pouco, ao se expressar no dia a dia. E conselho de macaca velha: se estiver fora do Brasil, cuidado redobrado na sua fala. Minesprado Publicação no EXTRANEWS - 9/6/2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário