quarta-feira, 13 de maio de 2015
A visita de Obama e a lição de Morgan
A visita de Obama e a lição de Morgan
Nesta madrugada recebi visita inesperada- Mr. Barack Obama, em pessoa.
Chegou, meio apressado, com alguns livros a tiracolo. E desandou a falar da Casa Branca, de modo impessoal e descompromissado. Sentado à cabeceira de uma mesa comprida, própria para reuniões, virava as páginas com certa ansiedade, como quem quer cumprir um protocolo e se mandar.
Sentei-me na outra ponta da mesa. Éramos dois numa reunião que só poderia ser onírica. Indaguei-o sobre a questão racial, desencadeadora de sérios conflitos no território americano, sobretudo em Baltimore, MD, expandindo-se rapidamente para outros estados. Situação preocupante essa. Ele se recusou a falar desse impasse.
Nisso, saído sei lá de onde, aterrissa na sala meu marido. Amante dos livros, a atitude foi de moleque que não quer ficar fora de cena. Empunhando vários exemplares, elevou um deles acima da cabeça de Obama, para que eu apreciasse gravuras, com toda a extensão da mesa a me separar delas. Mal distingui as figuras. Coisa doida!
Por motivo qualquer, talvez para servir água ou coisa assim, ausentei-me da sala. Antes que lá voltasse, ouvi passadas firmes, seguidas de um bater de porta. Obama se fora. Acordei meio zonza, sem nada entender. De onde a gente tira sonhos assim tão singulares?
O dia já raiava. Fui tomar meu café, um modo de espantar coisas sem pé nem cabeça e refletir também.
Quando Mr. Obama foi eleito para a presidência dos Estados Unidos da América, eu estava no Tio Sam. Confesso que torci para ele e fiquei exultante com a vitória. Um negro na Casa Branca deveria mudar o rumo da história americana, e muito.
Mas forças ocultas, como oposição e outras circunstâncias, costumam dobrar o idealismo. Digamos que o vencem pelo cansaço. Passo a passo, viu-se um Obama que não conseguia cumprir, na integra, suas promessas. Democrata que é, tinha e tem a parede poderosa dos republicanos a impedir suas concretizações. Quase todas as propostas do presidente trombam com a oposição, sendo a questão da saúde a primeira de muitas lutas a ser enfrentada e vencida sob protestos.
Barack Obama conseguiu a reeleição, mas sua atuação política está insignificante. Já não é visto como promotor da paz, “salvador do mundo” e muito menos dos negros, eternas vitimas de discriminação nos Estados Unidos, e não só.
Dia destes ganhei um novo amigo, o “Morgan”, apelido que lhe cai muito bem, pois tem o tipo e o carisma do ator Morgan Freeman, que se destacou em Conduzindo Miss Daisy (1989), Um Sonho de Liberdade (1994), Antes de Partir (2007), Invasão à Casa Branca (2013) e outros. Indago-me se, por trás desses “homens livres”, existe trajetória que inclua preconceito e luta por um lugar ao sol. Certamente que sim.
No Facebook leio: “O leite é branco, o sangue é vermelho, a alma...” A cor dela fica na conclusão de cada um – colorida ou desbotada, depende. A encrenca está na película que envolve nosso corpo, mero acidente, mas importante em qualquer questão racial classificatória. Ridículo que, em razão da pele, deixemos de nos ver como irmãos.
Qualquer preconceito é, sem dúvida, questão de alma. Só com muito esforço e reflexão, aliados a uma boa dose de razão, pode-se extirpá-lo dos corações, em qualquer lugar deste mundo controverso, porém belo, na essência.
Obama visitou-me em plena madrugada e se mandou sem dizer adeus. Nem tive tempo de lhe recomendar: “Não desista dos seus sonhos!” Mas posso dizê-lo ao meu amigo de carne e osso, “Morgan”, que me ensina: “Casa de pobre é igual igreja, não termina nunca.”
“Rabiscos de Minês”: minesprado.blogspot.com.br minesprado@gmail.com
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