quarta-feira, 29 de abril de 2015

Nascimento e Morte

_ Mas você veio sozinha? – é o que ouço, constantemente, nas últimas décadas.

_ Vim sim. Afinal, nascemos e morremos sozinhos, não è? – retruco, nem sempre com toda a boa vontade do mundo.

Essa indagação me irrita, até parece que estou ali, cometendo um pecado mortal. Quando digo “ali”, pode ser qualquer lugar: teatro, cinema, velório, baile, almoço, jantar, aniversário, consultório médico, hospital, praça e Banda Dona Gabriela, desfile, excursão, hotel, boteco, avião, viação interestadual, rodovias, ônibus londrino, museu americano, Câmara Municipal etc., tanto faz. Com tal explanação pode ser que eu seja julgada antissocial, neurótica ou sei lá. Nada a ver e, deixo claro: isso não me preocupa nem um tico. Adoro estar entre amigos, amo conhecer pessoas de qualquer nível socioeconômico, sobretudo de outras culturas, seja no Brasil, seja no exterior. Na Folha de S. Paulo há uma enquete semanal: “Fui e voltaria” ou “Fui e não voltaria”. Alguns leitores devem conhecer essa matéria. Muitas vezes, a resposta é positiva, pois a pessoa foi a algum lugar e afirma, com todo o entusiasmo, que lá voltaria; outras, a resposta é categórica - foi e não voltaria. Claro que sempre há justificativas para as respostas, mas quem sabe o motivo seja a companhia errada. Não sei se o leitor concorda comigo: em certas situações, se estamos desacompanhados, principalmente em viagens, há a chance de curtir muito mais o momento, o local, explorar a situação à vontade, inclusive fazer amigos inusitados e até para o resto da vida. Esse encontro pode acontecer tanto no supermercado, no hospital, na loja, no meio do mato ou num táxi londrino, certo? Assim, vejo a reação de certas gentes como sintoma de insegurança e/ou preconceito. Para elas, é quase um sacrilégio uma mulher solita, onde quer que seja. Interessante que, raramente, alguém questiona um homem por estar sozinho. Ao contrário, é “normal”. Pode até ser que, em relação ao sexo oposto, o cidadão seja alvo de estranhamento. “De certo não gosta de mulher, é gay!” e outras ignorâncias. Mas seu aparente isolamento não atrai tanta curiosidade como o da mulher. Em certas ocasiões, mulher desacompanhada é ímã para todo tipo de observação, para não dizer reprovação. Ridículo isso, em pleno século 21, em que o elemento feminino ocupa cargos antes só atribuídos ao sexo “forte”. Recentemente, li: “Ministra Maria Elizabeth Rocha, primeira mulher a ocupar o cargo de presidente do Superior Tribunal Militar.” Resumindo: se, no nascimento e na “última grande lição” - a morte -, momentos únicos e indelegáveis, somos alunos solitários, parece lógico e natural que uma mulher esteja, bela e formosa, sozinha, onde quer que seja, sem ninguém se achar no direito de ali meter a colher... minesprado@gmail.com “Rabiscos de Minês”: minesprado.blogspot.com.br Publicação Extranews - 22/4/15

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