quarta-feira, 29 de abril de 2015

Briga de Foice

Briga de foice Se há algo irritante é tentar, quinhentas vezes, sem sucesso, abrir alguma coisa de que se necessite com urgência, como uma garrafa d’água geladinha, quando se está morto de sede. As benditas tampas da maioria das embalagens de hoje desafiam todas as leis da força. “É questão de jeito” – palpite infeliz. E o desajeitado como faz? Há tempos, escrevi sobre a dificuldade de abrir saquinhos plásticos e outras coisas mais. E nada mudou. Entra ano sai ano e latas, garrafas, sacos, tubos, papel higiênico, tudo continua a debochar da nossa paciência, ou melhor, dos nossos dedos. Dia destes, fui abrir uma latinha de Coca e quebrei aquela linguinha que deve ser puxada com o maior cuidado, para não dar banho nos outros. Precisei pedir ajuda a um amigo, envergonhada pelos dedos desastrados. Cometo o mesmo pecado, com lata de sardinha – a linguinha quebra; então tenho que me valer do abridor, melecando a mão no óleo “cheiroso”... Dependendo da hora, olho bem pra lata e a devolvo ao armário. Aliás, faço isso com muita coisa que, já sei, vai provocar meu mau-jeito. E rolha das garrafas de vinho? Você põe um vinho branco seco para gelar, enquanto assa um peixe no capricho. O peixe pronto, o cheirinho a lhe provocar água na boca, você pega o vinho já gelado e o saca-rolha. Tenho um que adoro, pois não exige tanto esforço e ainda garante a rolha sã e salva, para depois vedar a sobra do vinho. Um porém – a rolha deve ser de boa qualidade, caso contrário esfarela ou fica encalhada no saca-rolha. Aí entra o desafio. Outro dia, topei com uma rolha fajuta, mas consegui tirá-la bonitinha. Só que não conseguia retirá-la do saca-rolha. Apoie-o na pia, espetei uma faca na rolha, para dar firmeza à operação, nada! Por fim, imaginem que cena mais ridícula e desajuizada: segurei a rolha com meus dentes, com a ponta do saca-rolhas “encarando-me”, fui girando o bendito, até que saquei a malandra. Já pensaram eu arrebentar a boca com um saca-rolha? Que explicação daria no Pronto Socorro desta terrinha? Aliás, com a boca arrebentada, não poderia explicar nada. Tenho bronca de garrafa “pet”. Quando peço uma água já me vitimizo:”Por favor, abre pra mim?” O nó é quando não tenho pra quem pedir. Tarde destas me bateu uma vontade doida de Coca com limão. É raríssimo ter refrigerante em casa, mas havia sobrado algum do meu niver. Animei-me, cortei “meu” limão, peguei uma Coca geladinha, hermeticamente fechada. “Força nessa mão, Maria Inês!” Nem com pano nem sem pano, a porcaria da tampa se mexia. “Melhor pôr de volta na geladeira, a meninada toma quando vier por aqui.” Não, não ia desistir. Deitei a garrafa na mesa de cirurgia (ops, na pia), com “boca” virada para a parede (banho de coca, jamais!), e simplesmente serrei a bendita tampa, até que cedesse. Quando percebi o barulhinho do ar saindo, ah, que vitória. Com a ponta da faca fiz o resto da operação “abre pet”. E matei minha vontade e sede, sem vergonha de ser feliz. Agora, pergunto ao paciente leitor que, talvez, ache que desperdicei este espaço com bobagens: “Neste mundo de conflitos terríveis, desde guerras a terremotos, passando pelas balas perdidas que fazem vítimas a toda hora, é cabível ter que guerrear com coisinhas mal projetadas, para usufruir uma mera sardinha, uma bebida ou coisa assim?” Cada um se vira como pode. É tragicômica essa briga de foice, mas fazer o quê? minesprado@gmail.com “Rabiscos de Minês”:minesprado.blogspot.com.br Publicação Extranews, 29/4/15

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