quinta-feira, 19 de março de 2015
Senhoras e senhores bailarinos - publicação Extranews -18/3/15
Senhoras e senhores bailarinos
Diz-se que “a alma de bailarina é feita de poesia”, será? Penso nos antigos bailes, com nostalgia e vontade de ressuscitá-los, inová-los.
Era rico o tempo dos salões de mármore, com orquestras espetaculares e gente feliz a bailar. Era romântico o arrasta-pé na roça, com sanfona e viola caipira! Pena que essa maravilha já era. A realidade de hoje precisa de trato, para que a dança de salão, remédio para corpo e alma, não morra. Por ora, os bailes pedem socorro.
Os pés de valsa viraram o século, agarrados a um passado que incluía bailinho familiar, noite curta (às 23 horas, todo mundo em casa), meninas com irmão ou primo a tiracolo, até ganharem certa autonomia, após o debút. Já os garotos faziam tudo mais cedo, eram os “tais” e pegavam no nosso pé o tempo todo.
Bailes de gente grande só após os dezoito anos. Quantos suspiros pela vontade de estar neles! A pressa era muita, não se sabia que o tempo voa e os cabelos branqueiam.
E cá estamos nos bailes da velha guarda, frequentados também por alguma moçada que curte samba, bolero, rancheira, salsa, valsa, forró e outras delicias. Só que esses bailes agonizam, por falta das brincadeiras que os animavam e atraiam vasto público.
De uma das brincadeiras, guardo passagem memorável: num baile, foi anunciado que as damas escolheriam seu par. Minha cabeça fez uma seleção relâmpago. Determinada a tirar um pé de valsa nota dez, mal dado o sinal para o inicio da dança, saí feito um raio na direção do eleito. Na verdade, não confiava no meu potencial; achei que perderia a corrida para outras damas, já que o sujeito era muito requisitado. Pois, acreditem, fui a primeirona. Pena que essa inovação morreu na praia. E outras danças mais bem sucedidas também foram pro brejo. A das damas segurando uma rosa ou sombrinha, que passavam para outras damas, desfazendo os pares, era ótima. Quando a música acabava, a dama que sobrasse com a flor ou a sombrinha na mão teria que encarar, sozinha, um frevo. A dança do sino era uma pândega: pares em roda imensa, com um sineiro no centro. A orquestra tocava, com interrupções abruptas, para troca de pares, na sequência da roda. Nessa dança, havia um cavalheiro que, ao topar comigo, dizia: “Lá vem o breque!”. Isso porque o tal gostava de “agarrar”; então, eu lhe dava um chega pra lá, fincando o dedão esquerdo no ombro dele. Essa dança era divertida, pois quem bobeasse na troca, sobrava; mas também deixava a gente ansiosa, pela expectativa de dançar com alguém predileto. Numa cidade mineira, era famosa a dança da vassoura: no fim da música, o cavaleiro que ficasse com a vassoura na mão, pagava multa. Os sovinas voavam pelo salão, trocando vassoura por dama que mal escolhiam.
Época formidável! Todo baile acabava com gosto de quero mais...
Ao desenterrar “causos” que provocam tanta saudade, dou-lhes uma dica:
_ Retomem essas brincadeiras, senhoras e senhores bailarinos!
minesprado@gmail.com
“Rabiscos de Minês”:minesprado.blogspot.com.br
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