quinta-feira, 19 de março de 2015

Colírio para as mulheres (Extranews de 11/3/15)

Colírio pras mulheres A sessão de hidro está animada. Conversas cruzadas, risos entremeados com o comando da fessora, ou melhor, da fisioterapeuta sorridente, mas enérgica na medida certa. Quando a turma pensa que a profissional simpática e eficiente está noutro planeta, lá vem ela: _ Dona Maricota, já fez pra trás, pra frente, abriu pros lados? Essas chamadas dão um breque geral no papo, logo retomado: _ Ué, o “colírio” não veio hoje, por quê? Quando ele vem, isso aqui é festa... _ Colírio? Que história é essa? Me contem – pede uma madurona atenta. _ Ah, sabe aquele cidadão assim e assado, seu fulano? Pois dona Zita fala que ele é um “colírio” pros olhos dela – explica a fisio, aproveitando que, naquele dia, só há mulheres fazendo hidro. Fantasia, não tem idade. Nenhum jovem que ouvisse tal comentário acreditaria que aquelas brincalhonas ainda têm interesse e admiração pelo sexo oposto e que, nos próprios sonhos, fazem viagens incríveis. Que riem como mocinhas entusiasmadas, contando sobre o primeiro paquera, o primeiro namorico. Para algumas cabeças estreitas, as meninas-velhas são assanhadas, retardadas e talvez contaminadas pelo “alemão” (esclerose já caiu em desuso). Esses eternos críticos de tudo e de todos nada entendem da alma feminina. São nulos em psicologia e em todas as ciências que explicam algo tão simples: mulher só envelhece por fora. Mulher, por dentro, é mulher a vida inteira, apenas mais seletiva. Seu coração tem paixão latente, seu cérebro é capaz de devaneios incríveis, seus desejos estão vivos, embora mais tranquilos. A mulher de agora, bem mais informada e autoconfiante do que a do século passado, só não compreende muito bem os meninos-idosos de hoje. Questiona, por exemplo, qual o diálogo que rola entre um senhorzão e uma garota que poderia ser filha ou neta dele. Muita gente argumentará: “Você acha que eles querem saber de altos papos, querem discutir política, islamismo, família etc. com uma ‘gata”? Ah, como você é tola! Eles querem é outra coisa...” É assim: a mulher madura que cai na asneira de comentar esse descompasso de idade em inúmeros pares é debochada, tachada de preconceituosa, despeitada e outros adjetivos pesados. Mas que é uma doideira um cara de setenta com uma garota de vinte, isso é. Claro que gosto não se discute, respeita-se. O mês de março chegou. O Dia da Mulher vem aí. Flores, pra ela! Uma lembrancinha, um cartão no capricho, uma surpresa, qualquer coisa simples a faz feliz. E não deve ser somente no dia 8 de março, porque todo santo dia é dia dela, seja ela casada,descasada, solteirona, mãe, avó, tia. Toda mulher tem uma pitada de Amélia: ela lava, passa, cozinha, limpa, faz dengos pra todo mundo, chamego pro marido, companheiro ou seja lá o que for, é voluntária, benemérita, catequista, profissional liberal, empregada dos outros e muito mais. É bom reforçar que todas encontram brecha para sonhar com um “colírio” que pinte por aí, em qualquer lugar: hidro, supermercado, telhado do vizinho, velório, teatro, sala de espera, filmes, novelas. Uma certeza: ninguém e nada alterará este fato: mulher nasce e morre mulher, a menos que ela mude de ideia e queira ser “ele”. E viva ela! minesprado@gmail.com “Rabiscos de Minês”: minesprado.blogspot.com.br

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