sábado, 10 de janeiro de 2015

Inocência conspurcada

Inocência conspurcada Nem tudo que é legal é moral. Assim, nos Estados Unidos o comércio de armas é facilitado pela legislação, de tal modo que não causa estranheza o cidadão comum exibir uma, desde que tenha porte de arma. É raro detectar famílias que não possuem arma de fogo em casa. Daí tantos crimes envolvendo jovens e crianças, pois o fácil acesso a tais artefatos é o ponto de partida para desatinos e/ou acidentes irreversíveis. Nos último dia de 2014, o Jornal da Globo noticiou que, nos Estados Unidos, um garotinho de apenas dois anos assassinara a mãe, com um revólver que estava na bolsa dela. Segundo consta, mãe e filho estavam no supermercado, quando o menino, sentado no carrinho de compras, retirou da bolsa da mãe uma arma e atirou. Simples, não? A reportagem observa que a moça tinha porte de arma. E agora? Dia seguinte, o 1º do Ano, busquei notícias nos jornais e nada encontrei. Talvez seja intencional a política americana evitar a divulgação de tragédias como a acima relatada. Acredito que haja uma lista imensa de casos com acidentes graves ou homicídios culposos (sem intenção de matar), envolvendo armamento encontrado na maioria das residências americanas. Sob o pretexto do direito à defesa, a legislação por lá parece intocável, quase um tabu. Não tenho a mínima ideia de quem seja esse pequeno infeliz, cuja vida começa de modo absurdamente trágico: é um matricida! Como se fará seu desenvolvimento, a partir do instante fatídico em que pegou um objeto letal como pegaria um chocalho? Ao balear a mãe, a imagem ficará impregnada nos seus neurônios pelo resto da vida. Como lidará com isso? Como a sociedade reagirá? Será, apenas, mais um número no registro infinito de mortes acidentais por arma de fogo? Fatalidade, dirão alguns. Não, não é: ao portar uma arma de fogo, pronta para seu acionada, assume-se o risco de ser partícipe ou conivente em fatos irreparáveis. Longe de mim por meu nariz onde não sou chamada; o americano me recomendaria: “Don’t put your nose, please!”. Mas, já que a terra do Tio Sam preza tanto os Direitos Humanos, deveria, com urgência, reformar as leis sobre tal questão. Causa arrepios imaginar um bebê (poucos anos atrás, assim se considerava uma criança de dois anos) como protagonista involuntário de cena dantesca, tendo a inocência conspurcada pelo matricídio, por culpa exclusiva da estupidez do adulto que não vacila em possuir arma, porque tem amparo legal. A indignação é tamanha que não encontra eco no meu vocabulário. E, tenho certeza, em nenhuma cabeça razoavelmente centrada. Que Deus ajude esse pequeno, vítima da insensatez alheia! minesprado@gmail.com “Rabiscos de Minês”:minesprado.blogspot.com.br Jan/15

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