sábado, 11 de outubro de 2014

Eleições 2014

Eleições 2014 “Somos todos responsáveis por essa situação, já que os que governam e os que fazem leis foram eleitos por nós.”, afirma Ferreira Gullar, em Somos todos responsáveis- Folha de S. Paulo, E10, de 5/10/14. Meus leitores devem ter estranhado que, na última semana, eu falasse de pomba, putrefação etc., abstendo-me de focar meus rabiscos nas eleições. Foi intencional. O que não significa que esteja alienada, em meio à doce vida. Muito pelo contrário. Que eu lembre, desde que me tornei eleitora, nunca havia participado tanto do clima eleitoral como desta vez. Assisti a quase todos os debates e também à boa parte da propaganda política. Estou antenada no que acontece Brasil afora. E assim persisto, mesmo porque o 2º turno para presidente e alguns governadores já foi anunciado. Entretanto, no 1º turno, determinei-me a exercer o direito de voto facultativo, graças aos meus mais de setenta anos. Não compareci às urnas, não por comodismo nem por não ter mais a obrigação legal. Foi por convicção de que o voto no “menos pior”- expressão esdrúxula que cansa os ouvidos - não bate com minha consciência. Além disso, endosso a reflexão de Ferreira Gullar. Afinal, reclamamos do resultado da nossa própria omissão, descaso, ao não exercer a plena cidadania, pois dá trabalho e dor de cabeça. E exercício de cidadania é atitude contínua, persistente, sem férias. A denúncia de coisa errada, por exemplo, é custosa, em todos os aspectos, exige coragem e compromisso. A leviandade tem que passar longe dessa questão. Exige também que tenha começo, meio e fim. Não pode ser atitude momentânea que logo cai no “deixa pra lá”. Aproveitando as queixas veiculadas nesta semana, indago: Quem se preocupou em denunciar a distribuição extemporânea de santinhos? Quem se preocupou em apontar a irregularidade de cavaletes de propaganda política postados ou caídos nos canteiros centrais de avenidas, pondo em risco a segurança dos pedestres e do trânsito? E mais: aqueles que fizeram a lição direitinho, cumprindo todo o ritual da votação, será que assistiram aos debates entre os candidatos e às sabatinas exibidas pela mídia, para se prepararem minimamente para o voto consciente? Ah, que coisa chata a TV, só debates, horário político obrigatório, propaganda eleitoral! Dias antes da eleição, fiz questão de checar o trânsito no Facebook e constatei que fica bem mais concorrido nesses horários. Ao contrário do horário das novelas, quando a rede fica deserta ... Nosso sistema político necessita de reforma urgente, de tal modo que deixe de ser motivo de chacota e do famoso “política é sujeira”. Há que se levar a sério o que é sério, para despertar o interesse dos cidadãos de bem, aqueles que se preocupam com um futuro melhor para as gerações mais novas. Política tem que deixar de ser meio de vida, em que famílias inteiras se banqueteiam custeadas pelos cofres públicos, destino maior do nosso suor. O voto deve ser facultativo, pois, assim, os políticos terão preocupação efetiva de cativar o eleitor, para que ele vote por prazer e não por imposição legal. Assim, o candidato a cargo político dançará o miudinho “amiúde” e não apenas em período eleitoral. A reeleição, o festival de inaugurações de obras maquiadas em ano de eleição e outros atravancadores do nosso sistema político têm que ser sepultados. Longe de mim qualquer apologia de infração às leis e ao direito. Apenas, cansei de flagrar voto manipulado, quando trabalhei em secção eleitoral. Lá, pessoas “de poucas letras”, empunhando um papelucho, adentravam a sala de votação, nervosas, atrapalhadas, para seguirem “a sugestão” do patrão ou da patroa. Uma vergonha a exploração da ingenuidade daquela gente humilde. Em contrapartida, o voto do brasileiro letrado se caracteriza pelo individualismo, pois despreza o bem comum e os interesses dos miseráveis. O professor vota no candidato que favorece o magistério, o empresário... Aos menos favorecidos, órfãos de tudo, resta seguir os patrões, para manter o emprego, ou, se livres de relação empregatícia, escolher o político/partido paternalista. Assim, porque nos falta educação para atuação efetiva no processo político, com razão Ferreira Gullar: somos todos responsáveis pelo status quo. Para finalizar, uma curiosidade: Como será o número de equilibrismo num circo político (Câmara Federal) composto por cerca de trinta (30) partidos? minesprado@gmail.com “Rabiscos de Minês”:minesprado.blogspot.com.br Publicação no Edição Extra de 11/10/14

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