sábado, 6 de setembro de 2014
Nossa pele de bebê
Nossa pele de bebê
Você entra apressadamente num banheiro, faz suas necessidades e... Caramba! Cadê o papel?
Essa é uma situação corriqueira e atemporal. Viramos o século, dependendo do papel higiênico a nossa disposição nos sanitários da vida - em casa, avião, hotel, casa alheia ou até no mato.
Há quem faça questão absoluta de ele ser de certa marca, mais macio, perfumado ou neutro, folha simples ou dupla, vinte ou trinta metros etc. Mas o que importa mesmo é sabê-lo ali, ao nosso alcance, na hora certa, não é mesmo?
Interessante é que ele tem mil utilidades, além da básica – limpar/secar nossas partes íntimas. Algumas delas aqui vão. Cortou-se, ao fazer a barba ou depilar-se? Um pedacinho do santo papel colocado sobre o corte estanca o sangue na hora. O batom está muito forte? Aperta-se um pedacinho do papel entre os lábios e pronto – a boca fica mais discreta, sem ar de palhaça. Problemas com frieiras resultam, quase sempre, de enxugar mal o vão entre os dedos. Fazer um rolinho de papel e passar ali resolve essa chatice. Você, homem, teve sua carteira roubada, pois ela estava dando sopa no bolso traseiro da calça? Solução: dobre um tanto de papel e ponha no bolso de trás; guarde a carteira noutro lugar e, se houver uma próxima vez, divirta-se vendo o larápio fulo da vida, decepcionado, jogando pra cima de você o chumaço de papel. A janela do quarto perturba seu sono, chacoalha, porque foi mal colocada e o vento não quer saber do seu grilo com o barulho que deixa você insone? Amontoe um tanto de papel e enfie no vão entre a janela e a vidraça: que paz! E, se justo na hora do nº 2, vier uma poesia supimpa, não hesite, puxe uma folha do rolo e lasque ali seus versos, antes que fujam e você se lamente por desperdiçar seu lirismo na privada.
Depoimento do papel higiênico: ‘Reconheço que sou indispensável na vida de todo mortal. Porém, pra sair da monotonia, pinto e bordo. Vira e mexe, escapo do pauzinho em que fico encaixado o dia todo e danço e rolo pelo chão limpo ou sujo, não importa. Ai que liberdade gostosa fazer um pouco de alongamento, à imitação dos meus usuários! Aí, se uma dona toda metida precisa de mim, divirto-me a valer: mãos bem cuidadas, pontinhas de dedos com medo de contaminação, querendo me agarrar - hilária essa cena. Outro lance divertido é quando meu rolo vai começar a ser usado e um ou uma infeliz morrendo de pressa não consegue achar meu início. Puxa-me, estraçalha-me, nada de acertar meu picote. Se eu estiver num daqueles suportes gigantes, próprios de rodoviárias e shoppings, aí a coisa engrossa, pois sumo lá na escuridão do troço e dali não saio, dali ninguém me tira. Vida boa a minha. Só odeio servir de banquete pra ratos. Vocês precisavam ver a cara dum fazendeiro cuca-fresca, ao me pôr na mão duma hóspede e só então notar que eu estava todo roído... ’
Pois é, viramos o século, mas o papel higiênico continua praticamente sem novidades. A grande diferença é que substituiu o jornal... Quem frequentou casas antigas, de gente mais simples, deve ter se limpado/enxugado com jornal cortado em quadrados pendurados num gancho de arame... Era bem desconfortável e anti-higiênico, só que noutros tempos ninguém pensava que a tinta e a aspereza do jornal faziam mal pra nossa pele de bebê, vero?
minesprado@gmail.com
“Rabiscos de Minês:minesprado.blogspot.com.br
Set./14TC
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