sábado, 6 de setembro de 2014

As incongruências assustam

As incongruências assustam A mídia nos traz maravilhas e lixos, ao mesmo tempo. Para conviver com tudo que nos chega, diariamente, pela TV, jornais, e-mails, redes sociais, sem perder o equilíbrio, é preciso muito malabarismo e senso de humor. Basta assistir a um noticiário televisivo, para perceber o quanto de animalidade está à solta mundo afora. Esta semana o mundo, estupefato, assistiu ao vídeo em que um jornalista americano está preste a ser decapitado por suposto membro do Estado Islâmico. Na mesma ocasião, mostrou-se o êxito da captura de foragido da justiça, o ex-médico Roger Abdelmassih, sanjoanense, para vergonha nossa. Mulheres enganadas, molestadas e estupradas por ele comemoram a prisão, embora haja recursos interpostos à espera de apreciação do judiciário. No aeroporto de Congonhas, onde desembarcou, vindo do Paraguai, foi submetido a toda sorte de xingamentos e imprecações, como parte do revide pelos males que causou. Se fosse registrar aqui todos os fatos escabrosos, fruto da conduta animalesca do homem, faltar-me-ia estômago e ao leitor também, para digerir tanto lixo. Em compensação, as belezas captadas no dia a dia são refrigério à alma. Ainda ontem, ao acessar um PPS, fui às lágrimas: imagens espetaculares – flores em profusão, multicoloridas, em especial, cerejeiras em flor, tendo como fundo musical a Serenata de Franz Schubert. Fiquei em estado de graça, flutuando, diante de tamanha maravilha. Numa das imagens, um pavão belíssimo, arte da mãe-natureza, concorre com as flores. Quase pausei a exibição, para contar as cores que a linda ave carrega na cauda aberta em leque. Imponência e delicadeza estacionaram ali, em dose dupla, numa combinação perfeita. Pena que somos metralhados com o bem e o mal, numa velocidade impossível de acompanhar, sem sairmos zonzos. As incongruências da vida assustam. Como pode o ser humano subir tão alto, capaz de façanhas espetaculares, presenteado ainda pela Natureza em festa, e, ao mesmo tempo, decair, em fração de segundos, como autor de barbaridades inconfessáveis? Pessoalmente, não consigo me imaginar como uma gangorra maluca, com bem e mal refestelados em cada extremidade. Não dá! Mas noto que essa visão impossível de mim mesma parece normal para muita gente. No caso do médico, por exemplo, supondo-se que seja culpado das acusações que pesam sobre ele, como pode levar vida de rei, exibindo à sociedade estrangeira e à própria família um retrato de pai; marido extremoso? Pai que leva filhos à escola, que passeia, cultiva pomares etc. Pode? Pode, sim. Que será que esse projeto de homem tem no lugar dos miolos? No caso do degolador do americano, será que, terminado o “serviço”, em que ostenta onipotência, consegue sentar-se à mesa para um banquete? Será que o cheiro de sangue humano lhe atiça o apetite? Será que é pai? Será que sua cabeça vale mais do que a que ele golpeia? Será que uma lavagem cerebral o tornou autômato, insensível, incapaz do equilíbrio razão/ emoção? Se, no cotidiano, eu pudesse filtrar o conteúdo que vai chegar aos meus sentidos seria ótimo. Cresci, ciente da existência do bem e do mal. Mas jamais imaginei um mundo assim tão louco, em que flores e pássaros me encantam, ao mesmo tempo em que facas me estraçalham ... minesprado@gmail.com “Rabiscos de Minês”:minesprado.blogspot.com.

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