sábado, 2 de agosto de 2014
O que é ser útil
O que é ser útil
Tem rodado muito na internet um vídeo do padre Fábio de Mello, abordando a utilidade das pessoas... Há pouca novidade nas palavras do padre, mas sempre é “útil” rever certos aspectos desta vida, no caso, relações estabelecidas entre humanos, em função da serventia de cada um.
Como, sábado passado, escrevi gostosamente sobre meu vovozado, nada mais natural que eu o ligue à utilidade do idoso. Com que olhos essa questão é vista? Creio que depende muito do olhar - se de uma criança, um jovem ou um adulto.
Idosos, de modo geral, são pacientes, adoram contar histórias e ensinar brincadeiras às crianças, razão pela qual muitos acabam como babás dos netos, sendo “utilíssimos”. Mas, quando se negam a tal, são úteis para a família? Provavelmente, não. São estorvos e, talvez, desencaminhadores dos netos, já que avós têm um jeitinho especial de deixar neto fazer o que quer, e até são coniventes nas infrações dos pequenos.
Queria estar errada, mas parece rarear um idoso “inútil” que seja querido pelos seus. Não sei se a razão são as profundas mudanças no mundo: o perfil pai/provedor, mãe/dona-de-casa já era, as casas ficam vazias a maior parte do tempo, pois cada um vai para um lado, o dia passa com raros encontros da família. Então, o idoso vai ficar com quem? Fazendo o quê? Vira pacote pronto para passar às mãos alheias, sejam de profissionais, sejam de amadores.
Mas deixemos a questão idoso/família de lado e vejamos o relacionamento idoso/amigos. Se o idoso é ativo, bem de vida, mesmo que ranzinza, terá um exército de amigos da mesma faixa etária, pois é quase uma utilidade pública: para os amigos e também para o governo, porque não pesa no sistema previdenciário. Ele se cuida, faz musculação, come do bom e do melhor, dirige, compra/vende, viaja, é livre pra fazer o que lhe der na veneta, até para meter a mão no bolso. E a bengala? Ora, em velho rico, a bengala é charme.
Se o idoso, ainda que ativo, for um pé rapado, a realidade é outra. É provável que fique enfurnado num cantinho, falando com as paredes. Dificilmente receberá visitas. Sua utilidade só não será zero, se for ótimo em trabalho voluntário ou em jogos de tabuleiro e carteado. Então, seu mundo se ampliará nas instituições de comadres/compadres ou pracinhas, pois bom parceiro é sempre útil.
Será que o idoso faz amizade com jovens? Por ele, sim, mas quais jovens querem saber de papo de velho? Poucos valorizam a experiência dos anos. De modo geral, para a moçada, velho é sinônimo de chatice e reumatismo.
Retomando o vídeo do padre Fabio de Mello, é melhor esquecer a nossa utilidade ou inutilidade e viver a doce vida. Se puder ser ao lado da família, mesmo que nos pinte assim ou assado, melhor. E, claro, ao lado dos amigos do peito ou nem tanto. Porque, se formos esmiuçar se prestamos ou não para alguma coisa, se somos úteis pelo nosso bolso ou pelo nosso coração, esqueceremos o azeite da máquina que já começa a emperrar. Deus nos livre!
minesprado@gmail.com
“Rabiscos de Minês”:minesprado.blogspot.com.br
Agosto/14
publicação no Edição extra de 2/8/14
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