sexta-feira, 13 de junho de 2014

THEATRO MUNICIPAL, PÉROLA CENTENÁRIA

Maria Inês de Araújo Prado, santista e sanjoanense, professora, advogada, membro correspondente da Academia de Letras de São João da Boa Vista, escritora, colaboradora eventual de jornais locais e outros; cronista do Edição Extra, desde 2006. Theatro Municipal, pérola centenária A origem da dramaturgia é primitiva, o que demonstra a importância da teatralização. Segundo estudiosos, o teatro – theátron - tem origem na Grécia Antiga (século VI, A.C.), sendo a arte de representar uma das formas mais originais e ricas de perpetuação da história dos povos. Graças ao teatro, William Shakespeare, o gênio, e outros grandes da dramaturgia e da literatura mundial se mantêm vivos, estudados e apreciados por gerações inteiras. No Brasil, o teatro foi introduzido pelos jesuítas (1564), pois viam a dramaturgia como meio eficaz de catequização dos índios, que já se deliciavam com a música e a dança, ótimos complementos da encenação. Assim, é justo inferir que nossas primeiras “produções” foram de cunho eminentemente religioso, como os clássicos “autos”. *** Quando vim de mudança para esta terra que tanto amo, São João da Boa Vista, sabia que um dos meus entretenimentos estava garantido. Mesmo ciente de que o Theatro Municipal fora desativado, à espera de restauração, eu comemorava as oportunidades vindouras de deliciar-me com a sensação indescritível que me toma inteira, quando vou assistir a uma peça. Sensação essa que começa nos preparativos, expande-se na chegada ao teatro, aprofunda-se à medida que mergulho na trama encenada (digo trama, pois é minha preferência), prolonga-se espetáculo adentro e povoa meus sonhos. Digamos que o teatro me leva a flutuar. Nunca atuei num palco, mas percebo ali a grande chance de o ser humano manifestar emoções escondidas ou sublimadas. Assim, alguém que seja muito passivo, aqui fora, pode liberar, no palco, agressividade inusitada. Uma atriz pode incorporar uma professora, uma freira, uma psicóloga, uma chefe de estado, uma amante ou qualquer outro papel que talvez satisfaça aspirações jamais vivenciadas no dia a dia. A restauração do nosso Theatro Municipal durou anos, como poderia contar o Carlos Gomes quase imperceptível, pintado no teto. Acompanhei o processo de restauro, par e passo, ansiosa para ver tudo resplandecente e a plateia lotada. Enquanto tal não acontecia, tive o prazer de sugerir, a alunas do Externato Santo Agostinho, uma visitação ao local em reforma, seguida de relato sobre a experiência. O interesse delas foi tamanho que até me causou alguma preocupação. Lembro-me, como se fosse hoje, das meninas exibindo amostras do piso do teatro devidamente etiquetadas, além do relatório minucioso em que incluíram suas peripécias, como subir escadas altíssimas e conversar com pedreiros que lá trabalhavam. De imediato, meu instinto maternal me fez imaginar os riscos que correram. Ainda bem que os anjos da guarda das arteiras tinham estado de plantão! Dei graças por tudo acabar bem, sem sobrar algum problemão para mim, embora eu não tivesse mandado ninguém subir escadas... Ainda conservo alguma coisa desse material, prova da visitinha das alunas nota dez – turma de 2001: amostra do piso de 1986 e a do que o substituiu, além de um fragmento da estátua do saguão. Reinaugurado o teatro, mesmo sem estar completo, vieram as batalhas para angariar recursos que possibilitassem seu término. A criação da AMITE (Associação dos Amigos do Theatro), em 2003, colaborou, e muito, para a reativação do espaço precioso. Programação eclética passou a movimentá-lo, regularmente. Poucos eventos teatrais, para minha decepção, mas muita música, dança, canto e o melhor, a Semana Guiomar Novaes. Esse evento cultural, considerado o segundo mais importante do Estado de São Paulo, é aguardado pelos sanjoanenses com muita expectativa, pois, além de honrar a pianista mundialmente reconhecida, proporciona música de qualidade aliada a artistas de renome. Ano a ano, o cronograma do Theatro tem sido incrementado, com festivais e semanas específicas, em homenagem a artistas locais, como Semana Assad, Festival de Teatro Atílio Gallo Lopes e, agora, Semana Gavino Quessa. Outros eventos de porte acontecem, como a Semana da Educação, com palestras que lotam a plateia. Ressalto que o Theatro Municipal não é um mero teatro, neste Brasil. É uma obra especialíssima, pois gente de peso que tem o prazer de pisar naquele palco é pródiga em elogios, quanto à acústica perfeita, além de enfatizar a beleza delicada da forma e do acabamento da casa de espetáculos que, regularmente, brinda São João da Boa Vista e região, com entretenimento, cultura e emoção ímpares. Impossível ignorar que uma filha desta terra foi grande incentivadora do teatro amador em Santos, como testemunha o escritor santista Pedro Bandeira, em O fototeatro de Plínio Marcos (Folha de S. Paulo - 30/3/2014): ‘No final dos anos 50 e inicio de 60, vivi o teatro amador em Santos, como companheiro e ator de Plínio Marcos e sob o incentivo de Pagu, a Patrícia Galvão.’ Assim, seria justo que a emblemática Patrícia Rehder Galvão (1910-1962) “aparecesse” nalgum cantinho dessa pérola centenária e digna de muito zelo, nosso Theatro Municipal, patrimônio indispensável à difusão das artes e da cultura. Junho/14 M. Inês Prado minesprado@gmail.com “Rabiscos de Minês”: minesprado.blogspot.com.br

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