segunda-feira, 16 de junho de 2014
Rainha sem cetro e coroa
Rainha sem cetro e coroa
Quem não se recorda do colchão de palha, da cama de vento - aquela dobrável -, do estrado de molas etc. e tal? Pois é, na juventude topávamos qualquer canto, para descansar nosso esqueleto saudável, todo ajustadinho. Mas, depois de certa quilometragem rodada, nossa coluna começa a resmungar. Então, a gente percebe que não é nenhum luxo a necessidade de cadeiras de ângulo reto, pernas e encosto de acordo com nossa altura, e o mais importante - colchões adequados e firmes. Sofás nem pensar; só se forem paras as visitas.
Simples, não? Nem sempre. A questão é que, quando vamos pra longe do nosso cantinho, pode-se levar travesseiro, mas não dá pra carregar o resto nas costas. Aí começa o imbróglio, ou para ser franca, a via sacra: o que fazer, para aguentar estadias fora de casa ou curtir/suportar eventos prolongados?
Se vamos passar dias com a família, dá para pedir, com jeitinho, que nos arranje um colchão firme. Geralmente é só roubar o do neto ou da neta, e tudo bem. Cadeira também não é problemão, a gente adéqua. Almofadas existem pra quê? Para amparar nosso lombo.
Já, temporada em hotéis exige boa vontade e interesse por parte dos hoteleiros. E não se surpreendam, caros leitores: ainda há muita gente nota dez preocupada com nosso conforto.
Há meses fiz reserva numa pousada em Paraty e solicitei colchão firme, tudo via internet. Foi tanta troca de e-mails que, confesso, fiquei sensibilizada.
Primeiro, informaram que só tinham colchão de molas, mas providenciariam um de espuma firme. Só queriam saber se poderia ser para cama de solteiro. Depois, descreveram-me as opções da única loja da cidade no ramo. Densidade X, Y, ou Z, qual era a minha preferência? Dá pra crer?
Escolhi a densidade, encantada com tanta deferência. Nessa hora é que se percebe o grau da nossa carência. Encantamo-nos com pouco...
À época da viagem eu estava leve, só de pensar que meu bem estar no paraíso litorâneo estava garantido. E como! Melhor impossível.
Mal cheguei a Paraty, o proprietário, um francês amável, logo quis saber se eu estava satisfeita com o colchão e, com minha confirmação, ainda comentou que era ótimo ter providenciado um, pois outros hóspedes poderiam usufruí-lo. Vejam o nível desse empresário! Faz toda a diferença, concordam?
Aqui na terrinha há um local que frequento, vez em quando. Um belo dia resolvi me queixar das minhas dores, por causa da cadeira baixa, encosto inclinado, um horror. Era tão inadequada que eu não achava posição! Para minha surpresa, conseguiram-me uma cadeira de ângulo reto e, ainda por cima, estofada! O engraçado é que o pessoal já se programou para colocar a cadeira para mim. Eu vá ou não vá ao tal lugar, a cadeira está lá, reservada, como se reserva assento vip.
Desse jeito, a gente até acaba acreditando que, esporadicamente, é rainha por alguns dias ou horas, mesmo que sem cetro e coroa...
Junho/14
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“Rabiscos de Minês”: minesprado.blogspot.com.br
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