sábado, 7 de junho de 2014
DOIS NA BOSSA: ELIS E JAIR
Dois na Bossa: Elis & Jair
Manhã de 19 de janeiro de 1982. Eu estava curtindo a Pauliceia, na companhia de minha tia, na Rua Martim Francisco, bairro Santa Cecília.
Logo cedo, após o café, era de praxe assistir ao noticiário matinal. E então a notícia da morte de Elis Regina deu-nos um supetão, pondo nosso dia de pernas pro ar. Como? Por quê? Inacreditável que a pequena esfuziante, polêmica, de apenas 36 anos, partisse assim, no auge da carreira, sem mais nem menos. Perdas trágicas sempre são questionadas. Afinal, Elis esbanjava vida, ela e seu sorriso espontâneo. Quem sabe sofresse de tristeza trancada.
O Brasil lamentou, chorou. Vivíamos ainda o Estado de Exceção, instalado no país com o golpe de 1964. Período que a gaúcha Elis não deixou passar batido. A seu modo, esperneou, através da sua voz marcante, interpretando composições que falavam de infância, de cores, de armas e flores.
Hoje, domingo, 1º de junho de 2014, ouço um exemplar de “O Melhor de Elis” (coleção da Folha de S.Paulo): o CD Dois na Bossa, gravação ao vivo do show de Elis e Jair, no Teatro Paramount, em 1967(São Paulo). O repertório todo tem conotação com perdas:
_ Enquanto a nossa meta não for atingida, Continuamos gritando o nosso canto, Enquanto nossa música não voltar ao que é, Nós lutamos, faz escuro, mas nós cantamos, O amanhã tá breve, Vamos cantar logo, logo, O que é nosso, Porque mais que nunca é preciso cantar o que é nosso!...(“Imagem”, de Luiz Eça e Aloysio de Oliveira)
_ A minha música não traz mensagem, E não faz chantagem ou guerra fria, E nem fala em ideologia, Eu vim apenas para lhes falar De uma grande perda, Que nem sei se é da direita ou da esquerda, E o que me importa se a censura corta, Pois eu gosto dela se é vermelha Ou se é verde e amarela... (“Manifesto”, de Guto e Mariozinho Rocha).
Trinta e dois anos se passaram. As letras interpretadas por Elis e Jair, em Dois na Bossa, são instigantes. Repensa-se a Pátria, repensa-se a cidadania e a vida. Elis foi-se muito cedo. Será que vislumbrou o país nos trilhos da plena democracia? Jair acaba de partir (8/5/14). Conferiu e vivenciou um Brasil modestamente equilibrado, mas deve ter levado algumas preocupações com ele. Irreverente, brincalhão, talvez paire por aí, cantando algo assim:
Brasil, vença a Copa,
Depois, mãos à obra!
Veja se topa
Endireitar de vez:
Educação, saúde, segurança, habitação
E todo o resto,
Sem deixar sobra.
Saiba, meu povo:
Daqui do andar de cima,
Planto bananeira,
À minha maneira,
De olho bem aberto em vocês.
Junho/14
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“Rabiscos de Minês”: minesprado.blogspot.com.br
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