sábado, 10 de maio de 2014
AS MÃOS DE MINHA MÃE
As mãos de minha mãe
Mãe,
Aceitei sua partida,
Porque faz parte da vida.
Mas seus últimos dias
De terrível sofrimento,
Isso jamais aceito.
Quero falar das suas mãos,
Não das que, inertes, pareciam pão:
Sabe, mãe, aquele pão
Que você fazia,
Pondo uma bolinha
No copo d’água fria?
Assim que ela vinha à tona,
Você, cheia de graça,
Ligeira, trabalhava a massa,
Modelando pães perfeitos,
Pincelados de fina gema.
Mãe, esse era seu jeito.
Sim, seu jeito,
Mãe,
De doar suas mãos,
A tanta gente, tantos feitos,
Ao Dan, aos filhos e netos,
A quem estivesse por perto.
Em especial, mãe,
Quero falar de suas mãos
Nos últimos anos,
Acariciando-me o braço
Ou apontando meus lábios
E o batom fraco.
Quem sabe, mãe,
Ao registrar a imagem
De suas mãos lembrando pão,
E delas, dias antes, em tremores,
Confundidos com Parkinson,
Eu me livre de fundas dores.
Dores da alma,
Que não se conforma
Com a imperícia e o descaso,
Que transformaram não só suas mãos,
Mas você toda, mãe amada,
Num enorme pão disforme.
Maio/14
minesprado@gmail.com
Publicação na Gazeta de São João de 10/5/14
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