sábado, 2 de novembro de 2013
Enem e batalhadores anônimos
O Enem – Exame Nacional de Ensino Médio - atrai gente de toda faixa etária e também de nível sociocultural diversificado, sendo importante estímulo para a concretização de sonhos, como o ingresso em universidade pública ou obtenção de bolsa de estudo (ProUni - Programa Universidade para Todos).
Neste ano, dentre os 7,1 milhões de inscritos no Enem há casos peculiares que têm merecido destaque na mídia. Inúmeros adultos (15% com mais de 30 anos, segundo o MEC), com longa carreira em diversas profissões, almejam a conquista de espaços mais atraentes e, assim, concorrem, lado a lado, com a moçada-estudante, inclusive treineiros. São domésticas, técnicos em radiologia, enfermeiros, professores aposentados, donas-de-casa e muito mais. Todos visam a novos trajetos, seja pela chance de crescimento, seja pelo desejo louvável de escapar da rotina morna, retomando os estudos e abrindo janelas promissoras
Entretanto, o que mais me chamou a atenção foi o caso de uma moradora de rua da Pauliceia Desvairada. Louca para mudar de vida, inscreveu-se no Enem mais uma vez. Por azar ou “tranquilidade” perdeu a prova, pois chegou dez minutos atrasada. Por que do atraso? O relato dela a um repórter é simplório, mas tocante. No sábado, dia 26, madrugou, pra ter tempo de comprar roupa nova e também dar um trato nos cabelos. Queria estar no capricho na hora da prova, um acontecimento pra lá de especial. Depois, de se embonecar, pegou condução para ir ao local do exame, mas ficou presa num congestionamento. Com receio de não chegar a tempo, desceu do ônibus, resolvida a fazer o resto do percurso a pé. Conclusão? Chegou toda arrumadinha, mas com um atraso de dez minutos. O portão fechado pontualmente às 13h era barreira intransponível para aquela que se arrumara como quem vai ver Maria. Fazer o quê? Resignação faz par com gente sofrida.
A coitada sempre tinha dificuldade para fazer a inscrição no Enem, por falta de endereço fixo. Este ano estava tudo certo, pois dera o endereço de um Centro de Convivência. Mesmo assim, por culpa da vaidade feminina que subsiste até nas sem-teto, o sonho dela de voltar aos estudos fica para 2014.
Admirável o pessoal que sacode os ombros para as pedras no caminho (eh, Drummond!), na firme intenção de subir na vida. Diante desses batalhadores anônimos, a gente tem vergonha dos nossos lamentos por meros pedriscos.
Nov./13
M. Inês Prado
minesprado@gmail.com
Blogger: “Rabiscos de Minês”:minesprado.blogspot.com.br
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