sábado, 9 de novembro de 2013
A curiosidade das crianças
A curiosidade das crianças
Dias destes fui entrevistada por alunos de uma 5ª série muito bem preparada pela professora de português. Disciplinados, levantavam as mãos para fazer as perguntas previamente escritas no caderno.
Antes, porém, contei-lhes um pouco de mim, preocupando-me com a adequação do vocabulário e o interesse das informações que, a meu ver, satisfariam a curiosidade da petizada.
Falei-lhes de filhos e netos, de estudos e trabalho, de preferências de lazer e de atividades mil que preenchem meu viver, principalmente a leitura e a escrita.
Depois, então, deu-se a roda viva. Só me faltou estar sentada numa cadeira giratória. As indagações pipocavam de lá e de cá. A todas eu respondi numa boa, sempre atenta para não resvalar para algum assunto paralelo.
Um garotinho muito sério, voz firme, própria de quem sabe o que quer, soltou esta:
_ A senhora tem marido?
Confesso que ele me pegou de surpresa. Tanta coisa para querer saber e o pequeno me vem com uma questão tão pessoal! Felizmente, não titubeei:
_ Já tive, não tenho mais. Morreu faz muito tempo – respondi, sem entrar em detalhes que, além de impróprios, nada acrescentariam à finalidade da entrevista, trabalho para uma feira cultural que aconteceria dali uns dias.
Terminada a sabatina, autografei cadernos da meninada em fila muito organizada. Consegui até fazer versinho em alguns deles.
Despedi-me deles, tranquila, leve e solta. Dever cumprido. Mas trouxe comigo o incômodo de uma questão que costuma sair muito da boca de adultos, não de crianças.
Adultos acham que todo mundo tem que ter um par. Se não tem, já teve, não é? Não obrigatoriamente, mas fica óbvio, se falamos de filhos, netos; afinal, ninguém caiu de paraquedas. Mas adulto é terrível, adora cutucar feridas. Por isso, detalhes são esmiuçados sem piedade.
Lembro-me muito bem das insinuações que me faziam, quando eu dizia que, após minha separação, meus meninos tinham ficado com o pai. Nossa, então eu perdera a guarda deles? E eu me via a explicar que eram adolescentes e que podiam escolher como de fato escolheram aquele que parecia o mais “legal” dos pais. Se a escolha foi certa ou desastrada é matéria do passado.
Pois é, curiosidade de criança a gente satisfaz com jeito, pois deixá-la sem resposta é estimular a introversão e a insegurança. Agora, a dos adultos é sinônimo de bisbilhotice, merece rasteiras e, conforme o caso, o silêncio, a melhor das respostas.
M. Inês Prado
Nov./13
minesprado@gmail.com
Blogger: ”Rabiscos de Minês”: minesprado.blogspot.com.br
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