domingo, 2 de junho de 2013

                                                        Medo se adquire?

     Fico emocionada, sempre que vejo pais e filhos brincando, numa boa.  Ali o amor se manifesta em plenitude, descontraído, puro. Ali se ensina e se aprende, a troca é linda!
     Mas há que se pensar nas tantas vezes em que brincadeiras mal dirigidas acabam se refletindo lá na frente, anos mais tarde, em medos aparentemente inexplicáveis.
     Por que uma criança se apavora com cães se, quando pequenina, adorava alisá-los?  Por que um bebê que mal dá os primeiros passos é capaz de subir numa cadeira e dela, num beiral de janela altíssima, sem nada temer, depois se transforma num adulto incapaz de andar de teleférico?  Por que um garotinho que, se deixasse, se jogaria na piscina funda, com  roupa e tudo, pouco tempo adiante se demonstra hidrófobo, sofrendo com a simples tentativa de molhar os pezinhos n’água salgada?
     Falo por mim. Tinha loucura para boiar, nadar, curtir o mar ao máximo. Nos tempos de criança a família grande ia à praia, levando as enormes boias de câmaras de pneus. Nelas, a criançada se amontoava e, sempre com um adulto por perto, divertia-se no balanço das ondas. Só que “espírito de porco” existe em toda família. Na minha não era diferente. O “português”, apelido de um tio por afinidade, tinha brincadeiras bobas, além de usar termos que marcavam a gente pro  resto da vida: polaca, bruaca, para a sobrinha gordinha – eu. Numa bela manhã, céu e mar se confundindo no azul indescritível, ele simplesmente virou a boia em que estávamos, eu e uns primos. Apavorei-me toda, engoli água até. Não é preciso dizer que, desde aquele “desastre”,  jamais consegui fazer muita coisa no mar, a não ser entrar timidamente, água até a cintura apenas, prevenindo-me das grandes ondas para equilibrar-me, e só.  
    Experiências negativas nos marcam e podem nos  atrapalhar  vida afora. Além de ser uma santista que não nada, também sou frustrada por não andar de bicicleta e mal cavalgar, embora o cavalo seja  meu animal do coração.
    Não pedalo porque, lá nos meus seis anos, meu  dedicado pai, querendo ensinar-me, teve a infelicidade de soltar-me antes da hora, naquele lance de ir segurando a bicicleta por trás, até que a gente se equilibre com segurança. Resultado: fui pro chão, numa rua de terra batida, ralando-me todinha. A aprendizagem parou aí. Nunca mais sentei numa bike.
    Cavalgo mal e mal, porque, numa das primeiras vezes que montei um cavalo, a sela não estava bem afivelada e zás! – virou junto comigo.  Agarrada às rédeas, fui parar na barriga do animal. Foi um sustão pra mim e pro coitado, mas não tirou minha paixão por cavalos. Aos poucos, consegui superar o trauma, recorrendo sempre à indagação: ”A sela está bem presa, moço?“ Tendo chance, escolho um lindão, daqueles bem  imponentes e com olhar de mui amigos, e dou uma voltinha, com pose de dona do universo. Na última aventura, um marchador levou-me por trilha em mata fechada, subindo e descendo morro, eu driblando galhos de árvores para não ser degolada. Um moleque franzino, meu “guia”, chicoteava o cavalo dele, esquecido desta falsa amazona lá trás.  A loucura valeu a viagem a Termas de Jurema, lugar badalado que não faz meu gosto.
     Retomo a questão: Medo se adquire? Dizem que criança não tem medo de nada. Por isso, a lição que fica é que, talvez, a gente aprenda a ter medo, não apenas pelas advertências, desde pequena, mas pelas experiências negativas - os sustões.
M. Inês Prado
Jun. /13

      

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