sábado, 15 de junho de 2013

Rabiscos de Minês: Zorba, o grego e o Dia dos Namorados

                                        ‘Zorba, o grego’ e o  Dia dos Namorados

    No feriado de Corpus Christi a TV Cultura reprisou ‘Zorba, o grego’, produção grego-americana de 1964, dirigida por Michael Cacoyannis.
    A interpretação de alguns grandes da sétima arte me aqueceu corpo e alma: Anthony Quinn (1915-2001) mexicano inimitável, Alan Bates (1934-2003), lindo palmo de rosto,  Irene Papas (1926), grega de beleza forte, e Lila Kédrova (1918-2000), russa expressiva, ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante.
    A canção Sirtaki, composta por Mikis Theodorakis, ficou famosa, pelo desempenho de Zorba, ao dançá-la divinamente, acompanhado pelo tímido Basil, escritor em crise de criatividade, que vai à ilha de Creta para reabrir a mina de linhito, herança do pai.
    Zorba, o grego, é um deleite, do começo ao fim, um cardápio variado para nossas emoções às vezes meio embotadas. Há momentos tragicômicos, como o desabamento do pretenso teleférico construído por Zorba, para transportar madeira. O fiasco da engenhoca leva todo o dinheiro do escritor Basil.
    Dois affaires servem de elo para todo o desenrolar da trama: o affaire entre Zorba e uma ex-cortesã francesa, dona da pensão “Hotel Ritz”, e o outro, entre Basil e uma viúva grega cobiçada por todos os homens de Creta.
    Zorba não leva o relacionamento muito a serio, parece praticar caridade, nas suas demonstrações de afeto para com a velhota, sua senhoria. Só que esta se alimenta dos mais altos sonhos, tal mocinha à espera do príncipe: enquanto Zorba viaja e se diverte com uma jovem, a pobre  sonha com um presente que pede para o amado,  metros  de cetim branco para o vestido de noiva...
    Por sua vez, Basil, sensível, poético, não resiste à beleza da viúva grega e os dois acabam nos braços um do outro, para revolta dos locais. Resultado: a “traidora” é condenada ao apedrejamento, do que Zorba tenta salvá-la, mas falha.
    ‘Zorba, o grego’, trazido para os dias de hoje, mostra que o século virou, mas as coisas do amor não mudaram muito, não do lado feminino. As mulheres do século 21 ainda alimentam devaneios com vestido de noiva, com palmo de rosto másculo,  com flores e laços. Continuam românticas inveteradas, embora todas as lambadas da vida, frutos talvez de escolhas cegas e/ou afoitas.
    Semana passada, assisti à reportagem feita numa cafeicultura, na vizinha cidade de São Sebastião da Grama. O tema? Desfile de mulheres que trabalham no cultivo do precioso grão e que estão experimentando o gosto da passarela pela primeira vez, com direito a cabeleireiro, manicure, maquiagem, vestido de festa e prêmios.  Transformadas em princesas por um dia, deram entrevistas e falaram de sonhos. Uma delas, morena de olhar expressivo,  declarou, com muita simplicidade:
    _ O que mais quero é ganhar um buquê de rosas. Nunca recebi nenhuma flor...
   Vou torcer para que o sonho dela se realize. Ao menos uma vez na vida, que ela sinta o coração aos pulos, abraçada a um belo ramalhete, tal qual debutante de 15 anos.
    Afinal, até quem ganhou buquês  vida afora,  não deixa de sonhar com flores e laços. Por mim, confesso que uma flor do campo, amarelinha,  colhida por um Zorba, durante um passeio de mãos dadas, far-me-ia mais feliz que dúzias de príncipe negro.
M. Inês Prado

Jun./13

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