sábado, 22 de junho de 2013

                                                                   Plebiscito abrangente
   Aborto, casamento gay, drogas, maioridade penal são questões que, todo dia, frequentam as páginas dos jornais e a TV.  Por isso, é nosso dever nos inteirar  das discussões que esses temas suscitam, refletindo e opinando, pois qualquer alteração no status quo afeta a todos nós, positiva ou negativamente.  Afinal, viver em sociedade implica submeter-se à legislação vigente. 
   Lidar com certas faces da vida é custoso, dá dor de cabeça, gera  constrangimento, exige conhecimento de causa, parcimônia, bom-senso e objetividade, esta a mais difícil, se a questão em pauta remexe  nossas dores decorrentes de alguma vivência pessoal. Evitar a influência da subjetividade é fundamental para uma conclusão isenta de sentimentalismo e/ou individualismo, ou seja, que vise ao bem comum.
  *Opinar se o aborto, em qualquer caso,  deve ou não ser descriminalizado  pode ser mais simples, se nunca nos deparamos com a terrível decisão de interromper uma vida. Há grupos insistindo que, até determinado tempo de gestação, ela inexiste. Mas não se pode ir pela cabeça dos outros; é imperioso mergulhar fundo nas nossas convicções, para obter  resposta ponderada, além de coerente com nossos valores.
  Se o primeiro vestígio de um botão  numa planta nos alegra, por que não nos alegrar com a notícia de um embrião? Se o embrião parece estar defeituoso, é preciso lembrar que flores também não são perfeitas. O feto é anencéfalo? Ora, já que a medicina faz descobertas surpreendentes de um dia para outro, quem nos garante que aquela vida em “botão” não terá “conserto”? Ninguém. Os exemplos em que a ideia do aborto entra em cena são inúmeros, passando, é claro, pela gravidez indesejada ou precoce, as que mais ensejam o aborto clandestino, motivo de inúmeras  mortes por infecção, hemorragia e outras complicações.
  *Para as gerações criadas no conservadorismo, o casamento gay é aberração. Mas seria útil  observar como a juventude encara a relação homoafetiva, para entender certos posicionamentos. Hoje, jovens heterossexuais que estejam em um lugar onde predomina a frequência de homossexuais encaram tudo com a maior naturalidade. Na verdade a cabeça conservadora e/ou presa a convicções religiosas projeta o que sente, tendo reações absurdas, como expulsar filho (a) homossexual de casa ou entender a opção sexual como doença a ser tratada, haja vista o projeto da comissão de Direitos Humanos, presidida pelo deputado Marco Feliciano – permitir a psicólogos oferecer tratamento para a homossexualidade, ou seja, a “cura gay”, segundo  críticos da ideia (FOLHA, A8, de 19/6/2013).
   *A descriminalização (que não se confunda com liberação!) das drogas é arma de dois gumes. Experiências em outros países mostram resultados divergentes, positivos ou desastrosos. O importante é pensar em termos de cultura brasileira, principalmente educação: o povo, de modo geral, está preparado para lidar com as consequências da descriminalização das drogas?  O Estado está estruturado para oferecer suporte e alternativas para os viciados e suas famílias? A sociedade já superou o preconceito e pode encarar, de frente, toda a complexidade do mal que destrói famílias inteiras?
   *Quanto à maioridade penal, está mais que na hora de cessar o paternalismo da sociedade e do Estado. A ladainha que envolve a idade de 16 anos para votar já deveria ter surtido efeito. O triste é que, enquanto a longevidade força o repensar de idade para a aposentadoria mais tardia, a ousadia ou a submissão dos  menores, estes muitas vezes postos “a serviço” dos maiores,  obriga-nos a repensar a maioridade penal, hoje 18 anos,  e sua redução para 16 anos. É mesmo muito triste!
   Essas questões polêmicas se arrastam, embora a urgência de soluções. Talvez um plebiscito abrangente seja o caminho mais sensato,  desde que a vontade do povo seja respeitada  e traduzida em leis, sem mais delongas. Basta de retórica, como tão bem retratam as manifestações públicas nos últimos dias, ao reivindicar atuação política e governamental correta e efetiva, em todos os âmbitos deste gigantesco  Brasil.

M. Inês Prado     Junho/13

  

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