Meus pais, eternos apaixonados, eram
discretos nas demonstrações de carinho entre eles, quando estavam fora das
quatro paredes. Brincadeiras de um com o outro, na frente dos filhos, eram
raríssimas, mas uma está vívida como se tivesse sido ontem.
Num sábado à tarde papai fazia a sesta, luxo
a que se permitia apenas no fim de semana. Cochilava gostoso, quando mamãe
resolveu acordá-lo por algum motivo qualquer, talvez para um cafezinho com
bolinho de chuva. Só que inventou um
jeito divertido de despertá-lo: com uma escova de lustrar sapatos, passou a
alisar os pés do Dan, ora um, ora outro. Papai não se mexia, parecia desmaiado,
enquanto ela insistia. De repente, ele nos surpreende com um pulo daqueles,
assustando todo mundo. Em seguida, um
tremendo acesso de riso toma conta do quarto deles. Mamãe, muito vermelha,
perde até o fôlego. Mas o “troco” vem rapidinho: papai a pega de jeito e a joga
na cama. Em seguida, quase a mata de cócegas por todo lado. Que judiação essa
lição que papai, um homenzarrão mui cavalheiro, deu para sua Edy. Tenho certeza
de que ela aprendeu muito bem que com cócegas não se brinca. Ela e a filharada
toda.
Pois bem, nestes dias, nosso Brasil, “gigante pela própria natureza”, quieto demais
nas últimas décadas, também reagiu a tantas provocações, cutucões, lero-lero,
tapeação, corrupção, desmandos, inconsequências, ou seja, sua paciência se
esgotou.
Por isso, ergueu-se, tenteando daqui e dali,
tímido a princípio, deu alguns passos miúdos, depois mais longos, e ganhou
espaço sem limites. Para susto da plateia de camarote, silenciosa e incrédula,
ele criou coragem, ensaiou os primeiros urros, sacudiu o corpanzil, muniu-se de
“bastas” e – que ousadia! – não deitou mais. Hoje, mais forte que nunca, dá indícios de que não sairá de cena tão logo.
A “plateia de cima” reage, confabula, retroage,
corre a divulgar ideias estapafúrdias, uma delas risível demais: “corrupção é
crime doloso”! A turma de lá vive um
caos, mas parece ter entendido a mensagem do gigante, tanto que a ordem é trabalhar como nunca, em busca de soluções
urgentes. A mamata acabou. Nada de jogos
da Copa das Confederações.
O gigante, que carrega no bojo mais de 194
milhões de pensantes, estava adormecido desde o século 20. Agora, finalmente, entra
em cena com performances inusitadas para
os incautos ou confiantes demais na moleza dele. A plateia lá dos altos está
temerosa e, se bobear, manietada. Sua
proteção é precária. Ela percebe que a confabulação tem que chegar a atitudes concretas
e efetivas, que controlem o monstro insone, de olhos arregalados há muitos dias,
fazendo barulho por todo lado, e bagunçando
a mesmice.
Basta de ser o gigante “do
futebol, da mulher bonita e do carnaval”! O portento quer muito mais.
De fato, era mais que hora de o gigante acordar
e fazer frege por aí, chacoalhando aqueles que tanto o perturbam. O fortão prova
que não é brinquedo de ninguém. Sentiu cócegas, despertou, refletiu e, então,
reage com bravura, dando demonstrações claras
de que não descansará tão cedo, ainda que à custa de muitos sacrifícios e
tristezas. Se é para ter show, que seja marcante,
com tantas reprises quantas forem necessárias. O gigante revigorou-se. Quando
sossegará? - incógnita que está deixando a plateia lá de cima de cabelo em pé.
Para tapear a saia justa em que está metida, ela fala em redemocratização...
Veremos!
M. Inês Prado
Junho/13
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