Mães crucificadas
Vou imitar o Luis Felipe Pondé, filósofo, escritor, colaborador da FOLHA, que afirma não escrever para agradar ao leitor. Portanto, não falarei de mimos, de consumismo nem de sentimentalismos a propósito do Dia das Mães. Seguindo o ensinamento do inigualável professor Shimada, mestre em ioga, direi tão somente do que eu gostaria, neste 12 de maio:
Gostaria que os olhares se voltassem para aquelas mães judiadas pela vida. Aquelas mães vítimas da bestialidade que as despedaça, roubando-lhes seus queridos. Aquelas mães que amargam a incerteza do amanhã dos filhos. E ainda as que têm gravidezes interrompidas clandestinamente, sujeitando-se ao julgamento da sociedade e a tantos outros castigos.
Gostaria que se pensasse nas mães cabisbaixas, diante das penitenciárias, em visita aos filhos desencaminhados. Ali se distorcem os sonhos iniciados durante a gestação. E quantos! Mas ali também depositam-se esperanças que somente coração de mãe conhece e alimenta, mesmo quando o descrédito abrange o resto do mundo.
Gostaria que se banisse das salas dos professores a crítica que vezes sem conta é proferida, ao se mencionar problema de aluno: “Também, com a mãe que tem!” É justo apontar o dedo para quem está ausente, sem chance de defesa? Ou melhor, quem somos nós, pobres criaturas, para julgar? Quem aponta o dedo apenas se projeta no outro, dizem os estudiosos.
Gostaria que as mães prematuras fossem poupadas de acusações inúteis, pois levianas ou não, a única coisa que lhes pode amenizar a antecipação da maternidade é o apoio incondicional da família e dos amigos. O que não tem remédio remediado está.
Gostaria que as mães de viciados encontrassem solidariedade, para aliviar-lhes a carga doída que carregam pela vida afora: a de nunca saber se o filho ou filha chegará em casa numa boa ou com a cabeça conturbada, pronta para agressões e desvarios. E a cada dia, a mesma dúvida cruel: será que ele ou ela volta ou se perde para sempre, nesse caminho sem volta?
Enfim, gostaria muito de, através destas linhas, aplacar a carência das mães crucificadas em vida, porque as demais, entra ano, sai ano, já têm festejos de sobra. Mesmo que ilusórios.
M. Inês Prado minesprado@gmail.com
Maio/13
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