Sr. Presidente da Academia de Letras de
São João da Boa Vista, senhoras e senhores, queridos amigos e familiares:
É com alegria e gratidão que
ocupo, hoje, este espaço. E responsabilidade também, pois a inesquecível
Aparecidinha se empenhava, especialmente, na sessão alusiva ao Dia das Mães.
Na última semana embebi-me de
idéias que envolvem a questão da maternidade. Então pensei a Academia como Mãe
Guardiã do Verbo, fazendo jus a todos os atributos que tal papel requer,
notadamente o acolhimento e a irradiação do amor ...às letras. Para irradiar-se
é preciso que saia das quatro paredes e se torne dinâmica, a fim de cativar o
interesse dos jovens para um mundo cada
vez mais distante deles – o mundo da palavra escrita.
Estou certa de que a criação
de um site, idealizado com muita criatividade pelo acadêmico Rodrigo Falconi, é
um grande passo para que a Academia se mostre de portas abertas à comunidade em
geral e leve a esta saberes que não
podem ficar guardados a sete chaves. É preciso eliminar a distância patente
entre a Academia e a maior parte da sociedade.
Recentemente foi noticiado
que acadêmicos compartilharam o chá das cinco com jovens estudantes, estes se mostrando deslumbrados com o contato que
mantiveram com escritores de renome, os quais só conheciam através dos livros.É
um belo exemplo a ser seguido por nossa Arcádia, por que não?
Que o acolhimento e a irradiação sejam a tônica da Mãe Guardiã do
Verbo.
Faces do amor materno
A figura materna nem sempre é
representada pela mãe biológica. Ela abrange, além das mães de sangue, aquelas
que exercem o verdadeiro mister de criar, zelar, educar um ser em formação.
Muitas mães adotivas, madrastas, avós, tias são mães incansáveis, às vezes até
superam, de longe, as biológicas. Talvez por sentirem maior responsabilidade no
cumprimento da missão que lhes coube, voluntária ou involuntariamente.
O amor materno, com suas
múltiplas faces, pode ser facilmente adjetivado de A a Z: altruísta, bondoso,
carinhoso, dicotômico, exigente, franco, gratificante, humilde, incondicional,
jovial, leal, meticuloso, nobre, obstinado, protetor, qualitativo, responsável,
sábio, tocante, único, voluntário, xereta, zeloso.
Algumas faces merecem especial reflexão: amor
incondicional, amor exigente, amor protetor, amor dicotômico.
Quando vemos mães desesperadas
diante de uma penitenciária em rebelião, tem-se bem a dimensão do amor materno.
O filho ou filha pode ser homicida ou o que for, a figura materna está ali,
desesperada, aflita pela integridade do filho em perigo iminente. Dentro dela
pode haver a amargura pelo desvio do caminho reto que ela fez o possível e o
impossível para mostrar. Porém, a amargura não prejudica a intensidade do seu
bem-querer, que é incondicional. Em ‘Por mais um dia’, de Mitch Albom, lê-se:
“Ela me amava do jeito que eu era, nos bons e nos maus momentos. Seu amor por
mim era um poço sem fundo.”
O papel da mãe inclui, e muito, a
cobrança; daí receber, com freqüência, a
pecha de “chata”, pois pega no pé... Ela precisa distinguir permissividade de
concessão, o que favorece a compreensão e a negociação, tornando o amor
exigente mais fácil de ser exercido. O respeito deve ocupar o lugar do medo,
sempre. O temor reverencial, expressão comum no meio jurídico, é coisa do
passado, quando muitos filhos obedeciam aos pais por receio do castigo, não por
entenderem a objeção ou imposição destes. Regras eram estabelecidas, sem
qualquer intercâmbio de idéias. Hoje, a tendência é educar na base do diálogo.
Segundo o Padre Haroldo Hahn, o verdadeiro amor é exigente, pois visa ao bem do
ser amado. Qualquer filho ou filha que experimenta a cobrança na hora certa
sente o quanto é importante no seio familiar.
A mãe biológica que tem a felicidade
de exercer a plena maternidade preocupa-se com os filhos desde a fecundação.
Além da expectativa que acompanha a gravidez, a mulher, se possível, redobra os
cuidados para manter-se saudável e preservar o feto . A criança nasce. O vento,
a friagem, o calor excessivo, o pozinho na casa ou seja onde for, o beijo
exagerado das visitas, tudo é motivo para criar problemas na cabeça da mãe. A
criança vai crescendo, as preocupações crescem junto, em nome da proteção. O
laço eterno se fortalece cada vez mais, torna-se resistente às investidas que,
às vezes, tentam lacerá-lo. Porém, a mãe deve estar consciente de que sua
missão é ajudar o filho ou a filha a
crescer. Aquela que abafa sua prole cai na armadilha da superproteção, o que
implica sofrimento para ambas. Mãe protetora deixa a janela do mundo aberta
para que sua criança possa descobrir o mundo, sob orientação e estímulo
constantes, o que difere da
superproteção, postura maléfica e egocêntrica..
A mulher que trabalha fora do lar fica
dividida entre a missão sacrossanta de mãe e o exercício da profissão. É uma
briga imensurável entre razão e coração.
Oportuno lembrar que a
sanjoanense Patrícia Galvão – PAGU, pretendendo ouvir a voz do idealismo
político e o apelo natural da maternidade, crucificou-se durante as inúmeras
separações entre ela e seus filhos, Rudá de Andrade e Geraldo Galvão Ferraz.
Felizmente, hoje, essa dicotomia vem sendo suavizada pelas creches e pelas
escolas de período integral, mas nada substitui o convívio familiar de
qualidade.
Há, ainda, quem adjetive o amor materno
como visceral. Tal ideia é defendida pela terapeuta de casais, dra. Magdalena
Ramos, da PUC – SP. Para ela, o laço
materno biológico se prolonga pela vida afora e é mais forte que o laço
paterno, devido à intimidade natural, desde a gestação. Talvez, por isso,
recaiam sobre os ombros da mãe maiores ônus, muitos decorrentes da relação
profunda entre ela e a criança.
MÃE, a primeira mulher na vida de todos
nós, seguida por outras - a avó, a tia, a madrinha, a babá, a vizinha, a
professora. Espera-se que todas tenham o instinto materno latente e bem resolvido, a fim de que sua influência
seja uma alavanca para a plena realização dos merecedores da bênção do seu Amor.
Parabéns
a todas as mães!
M. Inês Prado
Cadeira 36 - PAGU
Atualmente: MEMBRO CORRESPONDENTE DA ALSJBV
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