segunda-feira, 20 de maio de 2013

Faces do Amor Materno ( palestra na ALSJBV, em 2007)


 Sr. Presidente da Academia de Letras de São João da Boa Vista, senhoras e senhores, queridos amigos e familiares:

                 
                  É com alegria e gratidão que ocupo, hoje, este espaço. E responsabilidade também, pois a inesquecível Aparecidinha se empenhava, especialmente, na sessão alusiva ao Dia das Mães.
                  Na última semana embebi-me de idéias que envolvem a questão da maternidade. Então pensei a Academia como Mãe Guardiã do Verbo, fazendo jus a todos os atributos que tal papel requer, notadamente o acolhimento e a irradiação do amor ...às letras. Para irradiar-se é preciso que saia das quatro paredes e se torne dinâmica, a fim de cativar o interesse dos jovens para um mundo  cada vez mais distante deles – o mundo da palavra escrita.
                   Estou certa de que a criação de um site, idealizado com muita criatividade pelo acadêmico Rodrigo Falconi, é um grande passo para que a Academia se mostre de portas abertas à comunidade em geral e leve a esta  saberes que não podem ficar guardados a sete chaves. É preciso eliminar a distância patente entre a Academia e a maior parte da sociedade.
                   Recentemente foi noticiado que acadêmicos compartilharam o chá das cinco com jovens estudantes, estes  se mostrando deslumbrados com o contato que mantiveram com escritores de renome, os quais só conheciam através dos livros.É um belo exemplo a ser seguido por nossa Arcádia, por que não? 
                    Que o acolhimento e a  irradiação sejam a tônica da Mãe Guardiã do Verbo.                                      

                                                Faces do amor materno

                  A figura materna nem sempre é representada pela mãe biológica. Ela abrange, além das mães de sangue, aquelas que exercem o verdadeiro mister de criar, zelar, educar um ser em formação. Muitas mães adotivas, madrastas, avós, tias são mães incansáveis, às vezes até superam, de longe, as biológicas. Talvez por sentirem maior responsabilidade no cumprimento da missão que lhes coube, voluntária ou involuntariamente.
                O amor materno, com suas múltiplas faces, pode ser facilmente adjetivado de A a Z: altruísta, bondoso, carinhoso, dicotômico, exigente, franco, gratificante, humilde, incondicional, jovial, leal, meticuloso, nobre, obstinado, protetor, qualitativo, responsável, sábio, tocante, único, voluntário, xereta,        zeloso.
               Algumas  faces merecem especial reflexão: amor incondicional, amor exigente, amor protetor, amor dicotômico.
              Quando vemos mães desesperadas diante de uma penitenciária em rebelião, tem-se bem a dimensão do amor materno. O filho ou filha pode ser homicida ou o que for, a figura materna está ali, desesperada, aflita pela integridade do filho em perigo iminente. Dentro dela pode haver a amargura pelo desvio do caminho reto que ela fez o possível e o impossível para mostrar. Porém, a amargura não prejudica a intensidade do seu bem-querer, que é incondicional. Em ‘Por mais um dia’, de Mitch Albom, lê-se: “Ela me amava do jeito que eu era, nos bons e nos maus momentos. Seu amor por mim era um poço sem fundo.”
             O papel da mãe inclui, e muito, a cobrança; daí receber, com freqüência,  a pecha de “chata”, pois pega no pé... Ela precisa distinguir permissividade de concessão, o que favorece a compreensão e a negociação, tornando o amor exigente mais fácil de ser exercido. O respeito deve ocupar o lugar do medo, sempre. O temor reverencial, expressão comum no meio jurídico, é coisa do passado, quando muitos filhos obedeciam aos pais por receio do castigo, não por entenderem a objeção ou imposição destes. Regras eram estabelecidas, sem qualquer intercâmbio de idéias. Hoje, a tendência é educar na base do diálogo. Segundo o Padre Haroldo Hahn, o verdadeiro amor é exigente, pois visa ao bem do ser amado. Qualquer filho ou filha que experimenta a cobrança na hora certa sente o quanto é importante no seio familiar.
          A mãe biológica que tem a felicidade de exercer a plena maternidade preocupa-se com os filhos desde a fecundação. Além da expectativa que acompanha a gravidez, a mulher, se possível, redobra os cuidados para manter-se saudável e preservar o feto . A criança nasce. O vento, a friagem, o calor excessivo, o pozinho na casa ou seja onde for, o beijo exagerado das visitas, tudo é motivo para criar problemas na cabeça da mãe. A criança vai crescendo, as preocupações crescem junto, em nome da proteção. O laço eterno se fortalece cada vez mais, torna-se resistente às investidas que, às vezes, tentam lacerá-lo. Porém, a mãe deve estar consciente de que sua missão é ajudar o filho ou a filha  a crescer. Aquela que abafa sua prole cai na armadilha da superproteção, o que implica sofrimento para ambas. Mãe protetora deixa a janela do mundo aberta para que sua criança possa descobrir o mundo, sob orientação e estímulo constantes, o que  difere da superproteção, postura maléfica e egocêntrica..
       A mulher que trabalha fora do lar fica dividida entre a missão sacrossanta de mãe e o exercício da profissão. É uma briga imensurável entre razão e coração.   Oportuno  lembrar que a sanjoanense Patrícia Galvão – PAGU, pretendendo ouvir a voz do idealismo político e o apelo natural da maternidade, crucificou-se durante as inúmeras separações entre ela e seus filhos, Rudá de Andrade e Geraldo Galvão Ferraz. Felizmente, hoje, essa dicotomia vem sendo suavizada pelas creches e pelas escolas de período integral, mas nada substitui o convívio familiar de qualidade.
       Há, ainda, quem adjetive o amor materno como visceral. Tal ideia é defendida pela terapeuta de casais, dra. Magdalena Ramos, da  PUC – SP. Para ela, o laço materno biológico se prolonga pela vida afora e é mais forte que o laço paterno, devido à intimidade natural, desde a gestação. Talvez, por isso, recaiam sobre os ombros da mãe maiores ônus, muitos decorrentes da relação profunda entre ela e a criança.
       MÃE, a primeira mulher na vida de todos nós, seguida por outras - a avó, a tia, a madrinha, a babá, a vizinha, a professora. Espera-se que todas tenham o instinto materno latente e  bem resolvido, a fim de que sua influência seja  uma alavanca  para a plena realização dos merecedores  da bênção do seu Amor.
      Parabéns  a todas as  mães!


M. Inês Prado
Cadeira 36 - PAGU
Atualmente: MEMBRO CORRESPONDENTE DA ALSJBV

           


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