Das pedras e goiabas ao tricô
Neste 13 de maio, ganhei um presentão de Nossa Senhora de Fátima: fiz a melhor caminhada dos últimos dois anos. Ao terminá-la, fiquei tão zen que faltou pouco para sair voando, imantada pelo sol desta manhã. Na Esportiva, eu e algumas lágrimas represadas, a natureza exuberante, o céu muito azul, a orquestra dos pássaros e das galinhas (como cacarejam!). Precisa mais?
Hoje pude caminhar como nos velhos tempos, observando tudo, esquecida do meu pezinho 38,5 e das tantas recomendações médicas: “Cuidado, não torça, não quebre!”
As pedras pelo caminho me inspiraram tantas coisas, que me fizeram esquecer o receio de tropeções e me levaram ao meu avô, dono de pedreiras em Santos, onde pavimentou ruas e avenidas, erigiu capelas, prédios, casas, sendo chamado de doutor, pois o povo achava que era engenheiro, tal sua capacidade de trabalho primoroso. Modesto, não gostava de badalações e rejeitava o “doutor”.
Décadas após a morte dele, percebi o quanto fui influenciada por sua lida com as pedras, pois, durante minhas andanças, não resisto e colho algumas bem singulares, como uma do lago Erie, um dos Grandes Lagos da America Setentrional (Estados Unidos – Canadá), que mais parece um enorme ovo cheio de filigranas (marcas d’água). E há quatro anos, ao fazer o túmulo de papai e mamãe, não hesitei, fi-lo de pedra como o de vovô, lá no Cemitério do Paquetá. Ano passado, a profusão de pedras em Portugal me encantou, mesmo sofrendo um bocado para vencer o calçamento. Pedras me dão aconchego, segurança, não me perguntem por quê.
Depois de me levar a Santos e a Portugal, o pensamento se concentrou na Esportiva e suas goiabeiras agora peladas. Ah, que vontade de morder uma goiaba! Parece que foi ontem que me fartei de goiabada cascão, graças à natureza ali tão bem preservada. E, para ser justa comigo mesma, graças à minha paciência em limpar quilos de goiabas e passar horas com a barriga no fogão. E também a um amigo solícito que me ajudou a apanhá-las. Claro que, dias depois, ele ganhou uma amostrinha da minha cascão. “Tome cuidado com as sementes extraviadas” – recomendei-lhe.
Assim, agradeço essa manhã prazerosa, sob o olhar bondoso de Nossa Senhora de Fátima. Curti cada passo dado, enquanto enlaçava lembranças de todo jeito. Fui das pedras de meu avô às de Fátima, em Portugal, depois passei às goiabas da Esportiva e, finalmente, “aterrissei”, pensando na cor da lã para mais um tricô, uma das mil coisas que amo fazer. Só espero não achar nenhum buraquinho no cachecol que quase terminei ontem. As tricoteiras sabem o trabalhão que dá pegar um ponto escapado carreiras atrás. É o mesmo que querer fisgar uma ideia que está na ponta da língua.
M. Inês Prado minesprado@gmail.com
Maio/ 13
Oi, Maria Inês. É uma honra inaugurar os comentários neste seu novo e promissor espaço. Parabéns pelos textos e felicidades com o blog! Abraços.
ResponderExcluirObrigada, Marcelo.
ExcluirSó quem escreve compreende como é importante ter leitores críticos. E se o leitor é nosso par, melhor ainda, supõe-se confiável.
Abraço,
M. Inês
Parabéns Maria Inês pelo blog. Assim teremos mais um espaço de qualidade para nos deliciarmos com as leituras!
ResponderExcluirQue bom tê-lo como leitor e crítico. Assim, alçarei mais este voo - blogueira. Que sua mãe, dona Luíza, esteja sorrindo diante deste meu bater de asas.
ExcluirAbraço,
M. Inês